15/09/2007

"Manual do amor": filme sobre as venturas e desventuras do Amor

À prova do que se perdeu, muitas vezes, o coração que devia disparar ao simples vislumbre de algo, simplesmente não bate. O filme mostra o amor e suas fases, ilustradas em 4 história de amor, claro, que se passam com os protagonistas. A primeira mostra a paixão, a conquista, o enamorar-se. E as outras mostram as dificuldades, a falta de entusiasmo em se projetar no outro, a traição e o abandono em que não mais se percorre os ladrilhos do infinito. O diretor Giovanni Veronesi, trata o amor com humor, lirismo e genealidade. "Manual do amor" é um filme gostoso de assistir, um delicioso relato que nos faz sentir, rir e, se tanto, refletir sobre o amor. São histórias que poderiam ser vividas por quaisquer um de nós e que ainda trazem a peculiaridade da pacionalidade dos italianos (meus compatriotas por descendência). Um busca em que a alma várias vezes sente vontade de lágrimas. Em que busca por algo perdido. Uma chama, que antes deixava um brilho em seus olhos. A fonte de seu labor, tristeza e pezar, é procurar por um amor esquecido no tempo. Viver na espera de reencontrar no outro o que há em si mesmo. E seguir à luz do reflexo de uma céu cheio de nuvens e cinza, que não se mostra. Viver à sobra, no esquecimento do próprio conhecimento do porquê da dor. E no limiar de tudo, se perde o rumo. Segue no parapeito da janela, equilibrando-se, para não cair por entre os carros lá em baixo. E no âmago do desespero amoroso, pouco falta para a visão se cansar de olhar o mundo. Os ouvidos se cansarem de escutar os ruídos de tudo. As narinas se enojarem pelos cheiros. E todos os sentidos se perderem. Tudo isso, são meros vislumbres, formulações de imagens reversas que não passam de reflexos da realidade. Como disse Fernando Pessoa na voz de Bernardo Soares no livro do desassossego: "Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não posso lhe tocar." Somos os cacos de vidros que se espalham pela sala. E seguimos tentando, remendar os cacos partidos; certas vezes, estilhaçados, como se essa fosse a única coisa que nos restasse. É por isso que, muitas vezes, cegos nossos olhos andam sobre nuvens. Até que, nos pés cansem de não tocar o chão e sentir seu peso. E que seja descoberto o amor por tudo e em tudo, no seu retorno. Não mais nos queimamos na chama incandescente que emanamos e aos outros somos capazes de com ela contaminar. Assim somos, vivemos, amamos e perseveramos. Dizem ser a esperança a última que morre e então seguimos a caminhada, mesmo com os cadaços desamarrados ou os pés desnudos. E um dia o amor pode vir bater em nossa porta ou esta em nossa cara. O desafio de tentar descobrir nos é lançado. A resposta só encontra quem ousar arriscar.

12/09/2007

Concretismo do tempo

O velho passa.
A rua pisa.
O papel amassa.
Olha o relógio.
O atraso se revela.
Vê o maluco na janela.
O que era casa.
Arranha o céu.
Pessoas são formigas.
E elas passam na calçada.
São pontinhos pretos,
Vistos lá de cima.
Se olham e não se vêm.
A janela se fecha.
E a linha da poesia,
Que se perde, não se traça.
E o tempo traça e passa.