17/08/2007

Formiguinhas 4

O momento de contemplação não dura muito. A formiguinha escorregava do cadaço do homem e estava prestes a cair na grama, quando o cadaço passou por cima do ténis do homem e a formiguinha consegui subir.
O serviço já estava terminado e a grama toda cortada. O homem soltou um suspiro de alívio e seguiu para casa, mas a formiguinha continuava em cima do ténis.
Ela sonhava com um mundo novo, cheio de aventuras; um mundo além do jardim. A formiguinha passou a enxergar só um chão branco como algodão que passava depressa a seus olhos, de cima do ténis.
Gotas de agua começaram a cair pelo chão. O homem, parado perto da pia, bebia agua.
A formiguinha resolveu explorar esse novo mundo e ir rumo ao desconhecido. Ela foi cheia de esperanças de encontrar maravilhas, por ela jamais vistas. Ela não tinha idéia do que viria acontecer. Estava prestes a conhecer este mundo novo, quando uma sombra se fez sob sua cabeça e um peso enorme recaiu sob ela. Esmagada, ela gemia e se contorcia no chão branco.
A vista dela piscava e falhava. A morte se aproximava e ela sentiu uma brisa gélida, como um presságio de sua passagem. E assim, ela atravessou os portais do além, para o desconhecido.

9 - A formiguinha, parte 3 em : http://gustavocaran.multiply.com/

14/08/2007

Formiguinha parte 2

Um zumbido indefinido a amedrontou. Junto ao talo da planta a formiguinha só fazia chorar. E estava ela solitária, tão pequena e sujeita a desastres. Gotas de terra voavam em sua direção e a formiguinha não sabia para onde correr. Um clarão a fez parar. A luz era o sol reluzindo no metal que zumbia. A grama voava na direção da formiguinha que corria desnorteada. Que belo dia de sol ! - disse o homem que cortava a grama. A formiguilha só ouvia retumbar a voz e não entendia nada do que se passava. Vagava sem saber para onde ia. O barulho da lâmina começou a se aproximar mais e mais. E foi quando...

7 Formiguinhas 1 Parte e continuação em: http://gustavocaran.multiply.com/

13/08/2007

A bela imperfeição

Na penumbra, a figura de um negro, recurvado, ombros baixos, olhar fixo no tempo como prostrado. É a simplicidade impressa com vestimenta de algodão Nele se nota, para além da fisionomia, das rugas na testa, do cabelo grisalho, da barba, as veias vivas que saltam de sua pele. Saltam aos olhos o verde vivo, denso, sufocante, por detrás da figura. Todo esse verde compõe a figura do negro, como regionalizado e integrado em seu ambiente. A paisagem do quadro vai configurando-se com o movimento das águas que correm por entre as pedras, subtilmente, não jorram, escoam por debaixo das pedras. As matas na conjugação leve entre verde e amarelo, entre as folhas e aos seus pés um escuro, negro ao fundo dando um ar de profundidade, estendendo a paisagem que ali se configura. Surge outra figura. As vestes pesadas, escuras, em sua viscosidade e traço quase nada deixa à mostra, sobram as mãos e um dos braços fino, rosa, erguido. A figura parece sofrer nos traços sombrios, escuros. Os dedos postos sobre a testa, a cabeça tombada, os olhos fechados, como recolhidos no vôo do pensamento. Remete muito levemente a imagem do pensador, para fugir dela, quebrar com ela. A barba, os cabelos grisalhos, dignas de um sábio, um filósofo, um reflexivo tradicional e sofrido. Faz-se presente na riqueza de detalhes, de suas representações e imperfeições. É um contemplativo, representa uma face de si mesmo.

6 Segue-se o caminho dos imperfeitos: http://gustavocaran.multiply.com/