13/08/2007

A bela imperfeição

Na penumbra, a figura de um negro, recurvado, ombros baixos, olhar fixo no tempo como prostrado. É a simplicidade impressa com vestimenta de algodão Nele se nota, para além da fisionomia, das rugas na testa, do cabelo grisalho, da barba, as veias vivas que saltam de sua pele. Saltam aos olhos o verde vivo, denso, sufocante, por detrás da figura. Todo esse verde compõe a figura do negro, como regionalizado e integrado em seu ambiente. A paisagem do quadro vai configurando-se com o movimento das águas que correm por entre as pedras, subtilmente, não jorram, escoam por debaixo das pedras. As matas na conjugação leve entre verde e amarelo, entre as folhas e aos seus pés um escuro, negro ao fundo dando um ar de profundidade, estendendo a paisagem que ali se configura. Surge outra figura. As vestes pesadas, escuras, em sua viscosidade e traço quase nada deixa à mostra, sobram as mãos e um dos braços fino, rosa, erguido. A figura parece sofrer nos traços sombrios, escuros. Os dedos postos sobre a testa, a cabeça tombada, os olhos fechados, como recolhidos no vôo do pensamento. Remete muito levemente a imagem do pensador, para fugir dela, quebrar com ela. A barba, os cabelos grisalhos, dignas de um sábio, um filósofo, um reflexivo tradicional e sofrido. Faz-se presente na riqueza de detalhes, de suas representações e imperfeições. É um contemplativo, representa uma face de si mesmo.

6 Segue-se o caminho dos imperfeitos: http://gustavocaran.multiply.com/

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